CE Rodrigues: Reflexões sobre o formato e suas implicações do Mundial de Clubes em 25
Escrito por: CE Rodrigues
Ontem, dia 5, enquanto ouvia a transmissão do sorteio do novo Mundial de Clubes pela Rádio Mirai, senti um misto de entusiasmo e ceticismo. A expectativa de um evento global, que reunirá equipes dos mais variados cantos do planeta em solo norte-americano, é inegavelmente cativante. Só que o formato de classificação das equipes provoca uma série de reflexões, e, para alguns, até indignações.
A decisão de levar ao torneio os campeões recentes das principais competições continentais, como a UEFA Champions League e a Libertadores, é compreensível em termos de atratividade e tradição. No entanto, se tratando de clubes, a dinâmica do futebol é fluida, marcada por ciclos que transformam completamente a realidade das equipes em questão de meses. Um elenco vitorioso em 21, por exemplo, pode ser apenas uma lembrança distante em 25.
Eu acho que nem há necessidade em dar exemplos de equipes, sejam clubes ou seleções, que fizeram um feito histórico numa competição mas que depois disso, não mantiveram a mesma disposição de continuar esse caminho, como se aquela conquista fosse só o suficiente. Quem acompanha futebol já deve saber do que estou escrevendo.
O exemplo do Fluminense ilustra bem essa contradição. O tricolor carioca, que hoje ostenta o título de campeão da Libertadores em 23 e sonha em brilhar no Mundial, já viveu momentos de instabilidade severa, lutando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, quem não se lembra em 2009, por exemplo? Agora, a ideia de um clube, que dada as circunstâncias dessa 37ª rodada, está fazendo o Fluminense ficar perto novamente da segunda divisão de seu país enquanto é anunciado como uma das potências do futebol mundial soa, no mínimo, paradoxal. Essa disparidade expõe a fragilidade de um critério baseado em conquistas passadas, desconsiderando a evolução de uma equipe ao longo dos anos, ainda que evoluir não significa necessariamente melhorar.
Outro ponto crítico é a possibilidade de manipulação das condições esportivas às vésperas do torneio. Ao contrário de seleções nacionais, que dependem de convocatórias de jogadores, os clubes têm a liberdade de se reforçar abruptamente, desde que tenham recursos para tal. Imagine um clube que, faltando meses para o início do Mundial, invista pesado em contratações para se transformar em uma equipe completamente diferente daquela que se classificou. Isso pode criar um desnível competitivo e até não fazer o menor sentido.
A sugestão de reformular os critérios de classificação é válida, mas há uma coisa que aponta para um caminho mais democrático. Incluir os semifinalistas das principais competições continentais da véspera até o ano do Mundial, além de levar em conta o ranking de clubes, isso garantiria maior equilíbrio e representatividade. O sistema atual, focado em poucos campeões, deixa de fora times que, por consistência e mérito ao longo das temporadas, poderiam enriquecer o nível técnico do evento.
É inevitável que o novo Mundial de Clubes seja palco de surpresas e talvez decepções. Embora torça para eu estar errado, é difícil imaginar clubes brasileiros ou até equipes como o Urawa Reds, com aquela estratégia de futebol covarde na J-League, alcançando grandes feitos. O torneio, afinal, não deveria ser apenas uma vitrine global, mas também uma celebração da competitividade e da justiça esportiva.
A FIFA tem em mãos uma oportunidade única para repensar o formato e evitar contradições que podem deslegitimar o Mundial. Resta-nos esperar que o espetáculo seja digno do futebol e que, no futuro, os critérios sejam ajustados para refletir melhor a essência do esporte que tanto amamos.
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